BRZ 2047 – Prólogo: o golpe

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Caxias do Sul/RS – 4 de janeiro de 2047

“Não me importo de estar longe dos meus familiares e amigos. Afinal, nem sei se a minha família está viva. E a quem estou enganando, nunca tive muitos amigos.

Viver em um quartel do exército abandonado não é um problema. Aqui foi minha casa… Minha vida. Foram anos dedicados ao meu país. Como major, me sinto na obrigação de guardar essa propriedades, com unhas, dentes e garras.

Nesse tempo muita coisa mudou. Milhões de pessoas nas ruas, 34 anos atrás, e parecia que de nada adiantaria. Mas ali estava o começo. Os eventos esportivos foram um sucesso, tudo muito bonito, muito moderno, muitos sorrisos e muitos aplausos. Porém, tudo tem limite.

No ano de 2018, Cesar Porto foi eleito, com as promessas de sempre. Em pouco tempo, no entanto, sua popularidade chegou a quase zero. Isso por conta de superfaturamento de diversas obras, liderança nas corrupções de todas as esferas do poder, implantação de usinas nucleares e o estopim: acordo milionário que cedia a floresta amazônica para livre exploração dos Estados Unidos da América. Como moeda de troca, muito dinheiro para Porto e para os integrantes de seu acordo nacional, além de uma estação de experimentos espaciais na Serra Catarinense.

As pessoas voltaram às ruas e a repressão foi maior do que se esperava. O exército foi deixado de lado e as polícias receberam armamento americano de última geração para conter os populares. O ‘conter’ resultou em muita mortes em todo território nacional.

O movimento separatista do sul já era uma tendência de alguns políticos sulistas, mas as ‘propostas’ do presidente fizeram com que o ideal de uma minoria virasse um objetivo contra as tais maluquices, em 2020. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná se uniram, ganharam apoio de soldados sul-americanos e foram à batalha. Uma guerra de proporções enormes foi iniciada.

Com os EUA de ‘fiador’ do adversário, o movimento sulista foi derrotado com crueldade, após longos cinco anos de batalha. A população de 30 milhões foi reduzida a 8 milhões no sul. Um massacre.

Eu… Bem… Não fiquei do lado dos meus companheiros e amigos de brigada… Porra! Eu jurei à bandeira do meu país! O que eu podia ter feito? Quando o exército do restante do Brazil se tornou submisso à polícia armada pelos americanos, fiz parte da luta. Matei colegas, lutei contra minha região… Eu era considerado uma peça chave para as lutas. Principalmente por ser um ‘monstro’.

Se me arrependo? Lógico! Deveria mesmo é ter me matado na primeira chance, por mais difícil que morrer seja pra mim.

Depois dessa merda toda, a economia estava arrasada, empresas fugiram daqui e ficamos completamente à mercê dos norte-americanos, que injetaram milhões de dólares aqui. Mas tudo tem seu preço. A constituição foi refeita por juristas deles. As principais mudanças foram a troca oficial de Brasil por Brazil e algo completamente desastroso: importamos um presidente.

Jay Remington, secretário de segurança dos EUA, passou a ser o homem mais importante do Brazil e era auxiliado por Cesar Porto, a partir de então. De lá pra cá, o país virou um campo de exploração, de testes químicos e de brazileiros sobrevivendo como podem – isso sem falar das diversas cidades fantasmas que não recebem uma alma viva sequer. Me lembra muito um mundo pós-apocalíptico. Mas o nosso demônio está aqui… Nos ‘governando’.

Eu estive aqui sozinho, neste frio intenso, desde que tudo terminou. Eu e os presos de guerra. Ou posso chama-los de ‘presas’. Afinal de contas, tenho que me alimentar. Posso não ser um humano, mas vampiros velhos e barbudos também têm seus direitos.

Ontem coloquei minha boina e meu uniforme de exército, azul camuflado. Continua me servindo perfeitamente. Mantive a forma nesse tempo todo. Com 52 anos, estou com corpo de 30.

Resgatei minha KA-BAR, que ganhei dos americanos. Uma excelente faca… Vou levá-la comigo.

Estive treinando minhas asas nesses últimos dias para esse momento. É hora de acordar. Se jurei ao meu país, não posso deixá-lo nas mãos desses caras. E se tem alguém que pode recolocar o Brazil em ordem, sou eu. Os militares precisam voltar ao poder! Os brazileiros… Ou melhor… Os brasileiros!

Se está lendo isso, é porque encontrou minha carta de despedida. Vou arrumar essa bagunça americana. Ah… E desculpe as carcaças de gente morta pelo chão, não sou muito cuidadoso com a comida.

Ass. Major Sütter”

– Esta é uma série de ficção e nada do que foi escrito aqui condiz e/ou foi baseado em fatos reais ou opinião se seus autores. A obra é de direito restrito do site Sintonia Geek Magazine e sua reprodução é regrada à prévia autorização de seus criadores –

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