Chapecó/SC – 3 de fevereiro de 2047
Alex entrou lentamente na casa onde o tal Pajé estaria. Passo por passo, enquanto a madeira do chão rangia, contrapondo o silêncio que o garoto tentava fazer. Logo na entrada, uma sala de estar simples, com móveis e decoração de uma tradicional casa residencial. Um sofá em ‘L’, um tapete no centro e uma televisão de tubo, muito antiga, em um hack mais à frente. Ele não estava ali. Alex continuou até um corredor com três portas. A tensão aumentava. Nada garantiria que o homem fosse uma pessoa boa. O menino segurou firme no amuleto de Alice e abriu a primeira porta à esquerda. Lá estava, um rapaz careca, de costas, sentado como índio.
O homem negro que havia saído de dentro do abdômen de Sütter corria em uma velocidade sobre-humana em direção aonde o Alex e o Pajé estavam. Suas mãos com unhas afiadas e veias aparentes moviam em um movimento constante enquanto seu corpo acelerava cada vez mais. Após poucos segundos ele chegou em seu destino e viu a porta aberta.
Antes que Alex falasse algo, o Pajé, de costas, se antecipou.
– O que faz aqui moleque?
Alex, surpreso, gaguejou antes de iniciar sua resposta.
– Senhor Pajé, eu gostaria…
– Não me chame assim!
A voz grossa e irritada assustou Alex, que foi logo ao ponto.
– Me desculpe, eu não sei muito sobre o senhor, apenas o que dizem por aí. Mas eu vim até aqui porque o senhor precisa me ajudar a achar Remington!
– E porque eu ajudaria? Eu sinto que você não quer achá-lo pelos motivos certos.
– Mas, senhor…
Não havia mais tempo para conversas. Lá estava a criatura que destruiu o organismo de Sütter e chegou a Chapecó com objetivos ainda ocultos. Nem precisou se apresentar, o Pajé já havia sentido sua presença.
– Serápis… – disse o índio
– Olá Mavutsinim. Finalmente te achei. Embora essa seja uma terra insignificante, até que o país é bem extenso – retrucou a criatura
– Mavutsinim? Serápis? Mas, quem são vocês? – questionou Alex
– Fique de fora menino. Nem desse planeta você é, não deve se meter – aconselhou Mavutsinim
Neste momento um vendaval levantou todas as madeiras da casa, que ficou a céu aberto. Alice saiu do amuleto no pescoço de Alex e o explicou um pouco do que acontecia, sempre cochichando.
– Mavutsunim é o atual Deus do Submundo das almas boas. Na lenda Tupi, Mavutsunim foi o primeiro homem do mundo. Era sozinho e resolveu criar a mulher a partir de uma concha. Teve um filho com essa moça e nós somos netos desse filho. Mavutsunim ganhou o título de Deus do Submundo das almas boas por conta de sua insistência em trazer os mortos de volta à vida. Foi decidido então que ele realizaria as reencarnações das pessoas boas. Serápis gosta de ser chamado assim por sua proximidade com os povos romanos, mas o nome verdadeiro dele é Hades, Deus do Submundo das almas ruins, da mitologia grega.
– Isso que dizer que vocês representam… – Alex foi interrompido por Serápis.
– Não me venha de novo com a história de Céu e Inferno, de Deus e Lúcifer, de Apocalipse… Porque, diferente do que os humanos arrogantes pensam, os vivos não são de nossa responsabilidade. Aliás, não são de responsabilidade de ninguém! Apenas vivam e eu encontrarei a alma de vocês depois de mortos.
– Mas quem elegeu vocês para seus cargos? – perguntou Alex
– Você não acha que já há muito a ser descoberto na terra dos vivos, Alex? Recomendo que saia e leve Alice consigo. Serápis e eu temos algumas contas para ajustar.
Alice se transportou novamente para o amuleto, enquanto Alex tomava coragem para não sair do campo de batalha.
– Senhor Mavutsunim, por favor, rastreie a alma de Remington para que possa ir atrás dele e não vou mais incomodá-lo!
– Esqueça garoto…
– Ele não pode fazer isso, pirralho – disse em tom irônico, Serápis – Não contou a ele, Pajé?
– Não me chame assim! E ele não está preparado para saber! – respondeu Mavutsunim
– Saber? O quê? – perguntou curioso Alex
– Que Remington não é o protagonista desse desequilíbrio mundial no mundo dos vivos e dos mortos. Está morrendo tanta gente que nem sabemos mais quem tem boa alma e quem tem uma alma ruim. Remington é só um brinquedinho e é por isso que estamos aqui. Deuses nessa terra ridícula para procurar o irresponsável por isso. Desde a Segunda Guerra Mundial que não precisávamos nos preocupar em nos rebaixar tanto. E é por isso que não podemos rastreá-lo garoto. Ele não é um humano, ele…
Mavutsunim interrompe Serápis com um forte soco no estômago. Em seguida, o Deus das almas boas segurou a cabeça de Serápis e jogou contra o chão, iniciando a batalha e levantando uma grande poeira com o impacto.
– Eu disse que ele não pode saber! Garoto, é hora de você vir para o submundo. Sinto muito, mas você sabe demais e precisa reencarnar para esquecer tudo. – Mavutsunim se preparava para lançar algum tipo de golpe mortal a Alex, quando recebeu um forte golpe de um míssil que explodiu nele, criando uma grande nuvem de destroços.
Alex olhou para trás para ver quem havia atirado com uma bazuca e viu… Remington?
-Esta é uma série de ficção e nada do que foi escrito aqui condiz e/ou foi baseado em fatos reais ou opinião de seus autores. A obra é de direito restrito do site Sintonia Geek Magazine e sua reprodução é regrada à prévia autorização de seus criadores-