Presidente Prudente/SP – 1 de fevereiro de 2047
Depois de tanto estresse, o descanso era merecido antes de ir atrás do Pajé em uma das três cidades que ele citou na carta de despedida de Nova Andradina, no Mato Grosso do Sul. A parada em Presidente Prudente, em São Paulo, foi necessária. Eles já conheciam o local, pois tiveram que passar por ali para chegar a Batayporã.
Mas o tempo era curto. Quanto mais tempo Remington ficasse foragido, menos tempo teria Sütter pra reagir. Afinal, o presidente do Brazil continuava governando o país de longe, com o serviço de exploração de riquezas brazileiras indo bem. A população estava acuada. Ir às ruas? E enfrentar o exército brazileiro, respaldado pelos militares americanos? Seria suicídio. Remington não estava nem aí para as pessoas, só para as terras, o plantio, as pedras preciosas, o combustível, e tantas outras coisas que o Brazil tem de abundante.
Em 2047, São Paulo se tornou o centro de tudo; O Sul praticamente morreu, a população da região diminuiu em 60% e quem ficou sofria para arrumar emprego. Os mais sortudos conseguiam um trabalho braçal nas áreas de exploração, ganhando uma merreca, comendo mal, dormindo pouco e trabalhando muito; Rio de Janeiro virou o harém de luxo dos americanos e de quem mais pagasse.
Imóveis superfaturaram, o morro inflou pela debandada da classe média de suas casas (forçadamente), o tráfico continua – nem valia a pena para os estadunidenses bater de frente com eles – e pobreza praticamente zerada nos centros da cidade; O Nordeste estava quase do mesmo jeito, porém com menos pessoas, já que a falta de atenção para a região resultou em muitas mortes por fome, sede, desidratação, doenças e alto índice de criminalidade; O Norte virou um campo fértil de exploração, principalmente a Floresta Amazônica; O Centro-Oeste também tinha um índice de crimes muito alto, que pouco preocupava os americanos.
O caos refletia o descaso do governo de Remington para com o Brazil. Para ele, aquelas terras só serviam para retirar riquezas e nada mais. Inclusive, o tráfego aéreo ficou restrito às aeronaves militares americanas. Turismo não interessava e só passeava pelo Rio de Janeiro quem tinha muita grana. Sütter não aguentava ter pesadelos com essa situação, que o mesmo ajudou a construir. Um novo golpe militar, uma nova ditadura… Para ele, essa era a solução.
Alex queria vingança. Seus motivos eram óbvios: caçar quem matou sua mãe e descobrir a verdade sobre seu pai. Remington tinha a resposta. No meio disso, uma paixão totalmente estranha arrebatou o coração do menino. A garota fantasma era linda, mesmo com as marcas da morte em sua face, com rosto esbranquiçado, lábios roxos e olheiras. Ele sonhava com ela toda noite. Paixonite de criança? Talvez, mas era legítima.
No entanto, era hora de acordar. O tal Pajé parecia mais perto. Agora eles tinham pistas do homem que pode localizar a alma de Remington e rastreá-la. Do contrário, achar o presidente fugitivo seria uma missão para meses… Quem sabe anos… O Brazil não resistiria mais muito tempo dessa forma.
Mirassol/SP – 2 de fevereiro de 2047
A viagem pelo céu foi rápida e a dupla chegou à cidade de Mirassol pela madrugada. Tudo parecia bem vazio. A cidade fantasma não parecia suspeita. Mas Nova Andradina também não parecia! Alguns vôos pelo céu limpo e nada. Tudo muito tranquilo.
– Ele não tá aqui… Tá tudo calmo – disse Alex, sendo carregado pelos ombros, durante o vôo com o vampiro militar.
– Calmo até demais, tchê – concluiu Sütter.
– Você é muito pessimista. Não tem uma alma viva nesse lugar… Nem morta.
– Guri… Você não faz ideia das surpresas que um campo de batalha pode proporcionar.
– Olha… Uma luz no meio dessa escuridão!
– É uma fogueira no meio da encruzilhada. Vamos pousar.
Se aproximando, um homem negro com o rosto todo machucado olhou para eles com uma visão de esperança.
– Obrigado meu Deus! Até que enfim seres vivos! Ô meu pai eterno, como é bom ver pessoas. Rapazes, vocês não sabem a quanto tempo eu to esperando ver almas vivas nesse vazio e…
Sütter o interrompeu abruptamente.
– Você é o Pajé?
– Pajé? Não senhor, meu nome é Gregório e eu…
– Está sozinho na cidade Gregório? Não tem mais ninguém em Mirassol?
– Não… Eu vaguei por meses tentando encontrar alguém e nada…
– Alex, vamos embora.
– Não, por favor senhor, me ajuda?!
– Sütter, temos que ajudá-lo – disse Alex.
– Não, não temos. É perda de tempo. Se não tem ninguém, vamos para o próximo destino. Você vem guri?
– Desculpa moço! – Alex ressentiu, mas nada podia fazer… Estava de carona!
Os dois viraram as costas para ir embora e o já desapontado rapaz tentou um último suplício desesperado.
– Seus desgraçados, me ajudem! Militarzinho de merda!
A boina entregava a posição de militar de Sütter, mas nada irritava mais o vampiro que ter sua posição diminuída com palavrões. Ele parou de caminhar, fechou a cara e resolveu o que faria…
– Não se xinga um militar, muito menos um homem do Rio Grande – Sütter virou para Gregório – Eu não posso te ajudar, mas tu podes.
– Como? – indagou o rapaz.
Alex tapou os olhos, prevendo o que aconteceria. Sütter abriu um leve sorriso maléfico…
– Estou com muita fome!
-Esta é uma série de ficção e nada do que foi escrito aqui condiz e/ou foi baseado em fatos reais ou opinião de seus autores. A obra é de direito restrito do site Sintonia Geek Magazine e sua reprodução é regrada à prévia autorização de seus criadores-