BRZ 2047 – Capítulo X: O Dória

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Nova Andradina/MS – 24 de janeiro de 2047

Em painéis e telas de computadores estavam outros clones de Franco… Vários! Alex já nem sentia mais as dores dos cortes, de tão perplexo que estava. O local era enorme, no subterrâneo da pequena cidade de Nova Andradina/MS. Era estranho pensar em como um lugar daquele se sustentava.

– Se não eres Alex! Qué passa con su braços, menino? – disse em estranho portunhol um homem alto, barrigudo, de bigode e cabelo grisalho, enquanto se aproximava do prisioneiro. – Venha cá, brazileirinho de mierda! – puxou pelo pescoço o garoto e o jogou em uma cadeira branca.

Sütter observava tudo, mas o efeito do tranquilizante não o deixava mexer a boca, apenas babar em todo o seu corpo. Porém, a lentidão de seus sentidos e reflexos estava sumindo aos poucos. Mais alguns minutos ele se recuperaria.

– Quem é você? – perguntou Alex, ainda choramingando.

– No tengo dúvidas que aquela vadiazinha ya te contó toda la história. Sea inteligente, muchacho! – arranhou seu portunhol novamente o homem.

– Você é… – Alex é interrompido abruptamente por uma espécie de grunhido de Sütter.

– Dória! – afirmou o vampiro.

– Usted lembra de me, señor Sütter?! Muy interessante! – disse realmente surpreso, como um fã reconhecido pelo ídolo – Es muy bom… Como dicen… Muy bacana! Sus habilidades son impresionantes e siempre supe que estaríamos juntos en un solo lugar un día!

– Me… Tira… Daqui, seu puto! – gritou com dificuldades Sütter.

– Aaaaaaah, así no! Yo adoro a ti y es que lo que me dices? – lamentou com ar de decepção Dória

– Você… Me prendeu aqui… Seu puto!!! – respirava e falava com dificuldade o Major

– Sí, como no?! Precisava que usted se acalmasse! Mas ahora ficará más tiempo aí, para aprender!

– Alex… Seus braços…

– Eles cortaram, Sütter! – gritou voltando a chorar o menino

Já um pouco mais lúcido, Sütter lembrou que os aliens do planeta Óreon podem recuperar a energia e partes do corpo sugando o organismo de outros seres.

– Alex… Reconstrua-se… Sugue Franco! – gritou Sütter. Alex arregalou os olhos e, em uma fração de segundos, percebeu que bom plano era aquele. Em um rápido movimento, Alex abocanhou o braço de um dos Francos que estavam o escoltando. Mordeu com força e tratou de ativar o mecanismo do seu corpo que absorve a vítima. Dória olhou perplexo.

– Bastardos! Soltem los bois zumbis! – vários Francos correram para abrir uma porta de aço e liberar uma boiada de animais zumbis, putrificados e totalmente mutados por experimentos bizarros que visavam atingir perfeição em bois mutantes que dessem carne de qualidade.

Alex deixou Franco só em pele, renovou as energias e reconstituiu seu braço, em um entrelaçar de tecido gosmento, carne humana, músculos, nervos e ossos que reconstruíram. Já preparado seu ácido corporal para atacar, ele atravessou a barriga do outro Franco com uma das mãos ácidas, matando-o na hora. Porém, a boiada zumbi corria em sua direção, com aparência que parecia contaminante. Alex se preparou para enfrentá-los…

– Guri idiota, fuja! Esses bois são contagiosos! Se encostarem em você, as químicas deles podem te deformar. Suba no mezanino e me tira daqui!

– Sim senhor! – Alex correu no sentido do mezanino, despachando diversos Francos pelo caminho. Dória se apressou para o elevador e apertou o botão freneticamente.

Os corpos de Francos pelo caminho eram ferozmente devorados pelos bois zumbis, que arrancavam as carnes dos clones de maneira selvagem. Alex subiu no mezanino e corroeu os acessos por escada, impossibilitando que os monstros subissem. Dali poderia soltar uma jorrada de ácido para corroer as correntes de Sütter, e foi o que fez. Em poucos segundos, o vampiro estava livre e abriu suas asas de morcego rapidamente, para não cair no mar de bois.

Dória entrou no elevador e subiu rumo ao térreo da Prefeitura. Sütter voou em direção a Alex e o catou para voar juntos e sair daquele lugar.

– O que vamos fazer? Ele vai desativar o elevador? – alertou Alex.

– Eu conheço outro caminho – disse com certa propriedade Sütter, que foi na direção de onde os bois saíram. Passaram por outros bois, esses saudáveis, sem cabeça e super reforçados de carne, alimentados por canos que levavam comida até seu estômago. Alex preferiu não ver aquela bizarrice. – Foi assim que esse desgraçado enriqueceu e sustenta Batayporã! – concluiu Sütter.

Dória saiu correndo da Prefeitura. Já nas ruas cheias de neblina, ele olhou para trás, conferindo se havia sido seguido e, ao olhar pra frente, viu uma população de almas geladas e azuladas olhando pra ele. A menina que ajudara a levar Alex para o laboratório tomou a frente.

Pelo teto, Sütter e Alex quebraram uma vidraça e se dirigiram para o local da cena na rua.

– As pessoas morrem, são assassinadas… Mas elas voltam pra cobrar o preço, Dória. Seu preço por ter traído o exército boliviano e entregado os soldados ao exército brazileiro está aí, à sua frente. Você provou a matança. Você provou tantas mortes. É hora de pagar – discursou Sütter.

Dória estava desesperado e virou para correr. Todas as almas sopraram e um forte ar gelado congelou o ex-soldado até o pescoço. Sütter caminhou lentamente e abriu um breve sorriso…

– Eu faço as honras da casa – foi a deixa para puxar com toda a força a cabeça de Dória, arrancando-a do resto do corpo congelado. Era o fim. Dória estava morto, o exército de clones estava derrotado. Mas tinha o outro empregado, Heitor. Ele saiu da Prefeitura e se ajoelhou na rua.

– Tenha piedade senhor todo poderoso Sütter. Fui coagido. Sou apenas um empregado!

– Some daqui! – ordenou Sütter. Heitor saiu correndo… Mas algo em seu bolso era estranho aos olhos de Alex, mas preferiu deixar pra lá.

A menina se aproximou de Alex e sussurrou – obrigado.

Em seguida, ela entregou a eles uma carta do Pajé que poderia ter o paradeiro de Remington. A mensagem era para as almas. Quando ele saiu de lá pela última vez quis deixar um recado. Dizia:

“Amigos do além. Estou partindo, mas volto em breve.

Na volta, acabarei definitivamente com Dória. Mas primeiro, preciso resolver alguns problemas mais urgentes em três outras cidades: Chapecó/SC, Santa Cruz do Sul/RS e Mirassol/SP. Se precisarem de mim, estarei em um desses locais.

Fiquem em paz.”

Após a leitura de Alex, as almas começaram a girar, girar, girar, até desaparecerem. Alex se despediu com um tchau triste para a menina fantasma, que sussurrou novamente:

– Até logo.

-Esta é uma série de ficção e nada do que foi escrito aqui condiz e/ou foi baseado em fatos reais ou opinião de seus autores. A obra é de direito restrito do site Sintonia Geek Magazine e sua reprodução é regrada à prévia autorização de seus criadores-

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